Nasci em Jequié-BA em 1966 e fui morar na
Fazenda Turmalina aos seis anos de idade, porque meu pai tinha viajado pra
cuidar da saúde em São Paulo e minha mãe ficou com quatro filhos. Ela era
doente e não conseguiu alimentar a família, pagar aluguel de casa etc. Moramos
lá até meus doze anos, quando voltei pra continuar os estudos. Minha mãe voltou
com meus irmãos um ano depois. Moro na capital baiana desde 1993. Hoje sou
jornalista, escritor e poeta, Embaixador da DivineAcadémieFrançaisedesArts,
LettresetCulture e
Embaixador Universal da Paz. Filiado à União Brasileira de Escritores – UBE e
Membro-Fundador da União Baiana de Escritores – UBESC. Sou Cônsul do Parlamento
Nacional de Escritores da Colômbia (2013 a 2015), autor de 21 livros e coautor de
120 antologias. Ex-presidente do Colegiado Setorial de Literatura da Bahia
(2012/2014) e atual Conselheiro do PMLLB de Salvador-BA (2014/2016).
- Como foi e
quando se deu a sua descoberta pela poesia?
Minha mãe era
analfabeta e meu pai não parava em casa. Ele também não sabia ler nem escrever.
Mas ambos contavam histórias fantásticas de castelos, princesas, monstros...
Depois que cresci descobri que muitas das coisas que eles diziam eram de
cordéis. Quando comecei a ler, eu devorava de tudo: rótulos de shampoos, bulas
de remédio, qualquer papel que caísse em minhas mãos. Eu descobri um mundo
maravilhoso, que era o mundo das letras. Cada texto que eu lia era como entrar
num portal que me transportava para outra dimensão. Minha vida sempre foi de
pobreza, não tinha quase nada em casa, nem TV, livros, nada. Então, as viagens
que eu fazia na literatura e em qualquer escrito que eu achasse me tirava da
realidade me levava para um lugar mágico. Isso me fez ficar viciado em leitura.
Outros contatos
que tive com a literatura: revistas em quadrinhos, na fazenda onde morei. Ali
havia uma biblioteca na casa da fazendeira. A janela de uma das salas tinha um
problema e não fechava direito. Eu aproveitava quando ela viajava, entrava na
casa e carregava dezenas de revistinhas, lia todas e recolocava no lugar. Isso
aconteceu por vários anos. Minha curiosidade por leitura era muito grande, e
ainda continua, hoje, claro, sou mais seletivo, mas aprecio qualquer gênero,
qualquer formato.
Por conta dessa
paixão participo de vários coletivos de literatura, atuo tanto na sociedade
civil organizada como em grupos iniciantes, me aventuro a contar estórias e
tudo o mais.
Além da poesia, eu
me atrevo em outras criações: contos, romances, cordéis. Já publiquei também em
inglês, espanhol, italiano, holandês e alemão.
- Gostaria de
saber como você vê a Literatura no Brasil?
Em Salvador, em 2009, participei da fundação
do Projeto Fala Escritor, que ainda atua na cidade, com microfone aberto a quem
queira declamar, recitar ou ler um texto. Desde essa época já nasceram e
recomeçaram outros grupos de escritores e poetas. Atualmente mantenho um blog
onde divulgo os contatos e datas de saraus desses coletivos.
Tenho atuado muito no Sarau da Onça, há três
anos, e aprendido muito com os organizadores, frequentadores e simpatizantes
deste coletivo, que se situa na periferia de Sussuarana. Dali eles partem para
ações em vários bairros, cidades, estados e até no exterior, como Genebra,
Madri e Cartagena de Índias. Este grupo, junto com o Grupo Ágape, realizam
oficinas, saraus, palestras, recitais, encontros de saraus e outras atividades,
e eu sempre tento acompanhá-los. É um dos melhores exemplos de atuação da
sociedade civil, modelo que já vem sendo adotado por vários coletivos.
- Quais as
influências na infância e adolescência que contribuíram para a formação do
poeta?
As contações de histórias de minha mãe, Paula
Almeida de Jesus, foram de fundamental importância para me cativarem e me
inspirarem. Era um tempo em que o convívio familiar era muito mais importante
do que as carreiras, o vestibular. Ouvi muitos cordéis que ela sabia de
memória, fantasiei muito com os contos de fadas. Depois vieram poemas, através
de livretos que eu comprei na escola. Peguei o gosto e não parei mais.
Durante o período de escola normal e
universidade, claro que o foco se voltou para livros técnicos e científicos,
mas não parei de todo de degustar boa literatura. Mantenho um perfil no site www.skoob.com.br, onde posto os livros que estou lendo, que
já li ou pretendo ler. É uma prática muito saudável a leitura.
Livros
que tenho lido ultimamente: Ensaio sobre a cegueira (José Saramago); Cem anos
de solidão (Gabriel García Marquez), Nossos Ossos (Marcelino Freire), Namíbia,
Não (Aldri Anunciação), Os encantos do sol (MayrantGallo), A tristeza
extraordinária do leopardo-das-neves (JocaReinersTerron), Correntezas (Lívia
Natália), Um anjo de cem asas (Jorge Baptista Carrano), Cabaré (Luiz Menezes de
Miranda), Contrassonetos (Alex Simões), Na pata do cavalo tem sete abismos
(Clarissa Macedo), Poesias de Inverno (TaíssaCazumbá), dDeus (Miró), O Bullying
do Bully (Lucas Yuri), Gramática da Ira (Nelson Maca).
- Você possui e
publica seus trabalhos no blog Galinha Pulando. A internet tem contribuído para
difusão do seu trabalho?
A
maior parte de minhas publicações é feita na internet. É o meio mais fácil,
prático e barato de publicar, divulgar, ler e ser lido. Quase todos os meus
livros estão disponíveis para download gratuito. A internet é a minha maior
aliada. As fronteiras nunca foram respeitadas por mim, e com a rede mundial de
computadores eu consigo chegar a outras culturas, países, pessoas em diferentes
partes do mundo. Mas não me limito à WEB. Faço questão de viajar, encontrar
pessoalmente, participar de eventos ao vivo, palestras, feiras, festas etc. A
rede é mais um instrumento. Não podemos nos limitar, senão seria mais uma
fronteira fechada.
- Fala pra
gente como está o cenário poético no Brasil? Novidades?
Acredito que haja milhões de poetas no país. A maioria engavetada,
por medo, vergonha ou falta de incentivo. Falta estímulo nas escolas, pois a
educação atual é voltada para preparar pessoas para o mercado de trabalho, que
é mecânico, mercantilista e que só visa a produção em larga escala. Mas também
há muitos poetas e escritores se lançando por conta própria no mercado
editorial, bancando suas publicações e participando de eventos literários.
Qualquer olhada nos sites de literatura dá para perceber a diversidade de nomes
e temas. Ainda falta direcionamento, políticas públicas para acolher esses
artistas da palavra. Aqui e ali, os governos e iniciativa privada vão fazendo
ações pontuais, mas ainda não dão conta ou não conseguem dimensionar o
potencial dessa produção.
Poesia é algo sublime, literatura em geral é produzida com muita arte
é sensibilidade e precisa de tempo e espaço, o que hoje em dia custa caro. A
corrida da vida exige resultado financeiro imediato, para comprar carro, morar
em bairros “nobres” etc. A competição pela sobrevivência no mundo atual é algo
insano, sendo necessário matar uma manada de animais gigantes todos os dias,
para juntar umas moedas. A concorrência do mercado e da vida atropela a arte,
aumenta o custo de produção. Sobrevivem alguns artistas, a custa de sacrifícios
cada vez maiores. A maioria fica na marginalidade, fora das prateleiras, quase
sem alcançar possíveis leitores/consumidores. Há muito potencial, porém ainda
não existe como escoar tudo o que se produz ou se pode produzir.
- Para
finalizar, deixe um comentário a quem vem a ler o blog.
Minha Paixão por
Livros
Por:
Valdeck Almeida de Jesus
O primeiro contato com os livros foi aos seis
anos, quando comecei a estudar. Na época, morava na periferia de Jequié com
minha mãe, meu pai e três irmãos menores. Meu pai era analfabeto e trabalhava
roçando os campos. Minha mãe, também analfabeta, era do lar. Miséria e pobreza
sempre nos castigaram. Tínhamos tudo para não dar certo.
Felizmente as “letras” cruzaram minha vida.
Ao chegar à escola, troquei os brinquedos rudimentares por cartilha, ABC e
tabuada. Era um mundo fascinante e desafiador: os desenhos dos livros, a dança
das letras e os segredos dos números. Quando a professora Lina lia as histórias
de “Alice”, eu e Valquíria, minha irmã, ficávamos extasiados. “Viajávamos” na
magia dos contos infantis e esquecíamos os problemas do dia-a-dia. Tive a sorte
de ter contato com livros de uma forma lúdica, diferente do didatismo
convencional que caracteriza as escolas. As lições de casa eram leitura e
releitura do texto aprendido na classe. Sem o esforço da mamãe, esta tarefa
seria impossível.
Tão logo comecei a dominar as letras, passei
a devorar tudo que via pela frente: de bula de remédio a rótulos de xampus, de
manuais de eletrodomésticos a jornais diversos, de revistas coletadas nos
lixões a placas de trânsito. Quanto mais lia, mais fascinado ficava.
Com meu pai hospitalizado em São Paulo, minha
mãe decidiu ir à luta para garantir a sobrevivência dos filhos. Arrumou
trabalho numa fazenda distante. Tivemos que nos mudar. Eu ajudava minha mãe nos
serviços. Apesar de não conhecer as letras, ela conhecia bem a dureza de não se
ter estudo e matriculou os filhos na escola rural. Ensinei minha mãe a ler e
escrever.
Na fazenda, pude ter acesso ao mundo dos
gibis. Havia na sede um gabinete lotado de história em quadrinhos, que Dona
Luci Valverde, a proprietária, me permitia frequentar. Quando ela viajava, eu
dava um jeito de entrar pela janela e pegar algumas revistas. Lia-as com
avidez. Depois voltava para devolvê-las. Foi a melhor fase de minha vida: de um
lado, a integração com a natureza; do outro, os gibis a povoar meus olhos e meu
imaginário.
Foram cinco maravilhosos anos até retornar a
Jequié para continuar os estudos e mergulhar de vez na literatura. O primeiro
encontro com a poesia surgiu quando comprei uma série de três livretos de
poemas. Foi um caso de amor. Enlouqueci com aquela nova linguagem, repleta de
rimas, conotações e lirismo. Decidi ser poeta e comecei a rabiscar os primeiros
versos. Depois veio o Cordel, e minha cabeça deu um nó: seguir as regras da construção
lírica tradicional ou escrever livremente como os cordelistas? Para piorar,
chegaram Augusto dos Anjos, Castro Alves e outros. Acabei perdendo o pudor em
relação aos preciosismos e me libertei das formas cartesianas. A maturação
deste processo levou-me a criar novos e intensos poemas. Poemas que retratavam
desde as desgraças vividas aos desabafos de um jovem sufocado pelo sonho de
mudar o mundo.
Na fase de militância estudantil e política,
passei a ler e a escrever para jornais de luta operária, o que me abriu novos
horizontes. Fui devorador de livros na Biblioteca Municipal de Jequié, que me
inspirou a fundar uma biblioteca em casa e emprestar livros e revistas para a
vizinhança.
Era um viciado. E viciei muita gente a
descobrir que o mundo tem outras cores e dores, além das óbvias. Vivo para
plantar a semente da leitura e da reflexão. Acredito que ler não é só
decodificar signos. É muito mais. É decifrar o subliminar e as entrelinhas. É
compreender a vida como um todo. Vejo o mundo como um complexo do qual sou
parte e onde devo agir responsavelmente em relação a mim e a meu próximo.
Guiado por esta visão, hoje não só escrevo meus livros como incentivo a criação
literária pelo país afora. Com projetos de publicação de poemas de autores
anônimos, palestras em escolas e universidades, sei que abro uma porta
importante. O objetivo primordial da leitura é a transformação do cidadão na
força motriz de seu próprio destino e do mundo.
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Obrigado ao amigo Leonardo Pacheco pela oportunidade em ser publicado no seu blog.
ResponderExcluirÉ um prazer ter amigos das letras agrupado nesse blog, que tem sua finalidade apenas em divulgar, o novo, o que existe de bom na literatura brasileira. Abraço literário!
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